quinta-feira, 20 de julho de 2006

PRA COMEÇO DE CONVERSA...

Elizeu de Lima
(vulgo, Severino de Carpina)

Eu não vim atrás de glória
Vim cantar minha poesia
Vim mostrar minha cantoria
Um pouco de minha história
Narrar minha trajetória
Dizer de onde eu venho
Só digo ter o que tenho
Não sou de contar mentira
Comi carne de traíra,
Farinha com mel de engenho

Na dura lida eu me empenho
Cruzando rios sem pontes
Sou filho de Milton Fontes
A fonte de onde obtenho
Inspirações que detenho
Guardadas no coração
São como armas na mão
Na luta contra a inveja
Que se não mata, aleja
Só não me tira a razão

Eu canto um belo baião
Pra afugentar a tristeza
Relembro toda beleza
Que existe no meu torrão
Meu solo sacro, o sertão
Que um dia deixei pra trás
Não porque fui incapaz
De ali seguir minha lida
Mas é que nem sempre a vida
Corre como nos apraz

Mas o meu peito inda traz
Saudades de minha terra
Do juá no pé da serra
Do canto dos sabiás
Patativas, carcarás
Do vaqueiro aboiando
Seu rebanho ou descasando
Na sombra dum ingazeiro
Na feira, com um pandeiro,
Um cantador de embolada
Faz rima improvisada
Tentando ganhar dinheiro

O mundo rodou ligeiro
Mas eu não me atrasei
No seu encalço fiquei
Fiz do tempo um bagageiro
Das horas um travesseiro
Pra quando a noite chegar
Eu ter onde reclinar
O meu corpo véi cançado
De correr todo o cerrado
Tentando me encontrar

...é isso!

2 comentários:

Anônimo disse...

Poeta Elizeu, menino Severino, quanta riqueza de detalhes e que bela descrição do sertão nordestino. Voce descreve a vida e luta de tantos nordestinos em terras longínquas buscando a sobrevivência de maneira honesta e que apesar das dificuldades nunca esquecem suas raízes e os princípios morais adquiridos no seio de sua família. Para aqueles que como vc, tbm tiveram sua infância no nordeste em campos sertanejos, impossível ler este seu poema e não conspirar da mesma nostalgia. Senti um aperto no peito de saudades... Parabéns!

Anônimo disse...

Relendo pra relembrar tantos momentos, reviver meu tempo de menina no sertão baiano, minha família, tantas pessoas em meio a tão pouca gente. Hj, em meio a tanta gente, me refugio em seus versos pra espantar a solidão e tristeza q me perseguem, permitir lembranças e consentir q as as lágrimas rolem na certeza de q fui feliz e não sabia. Obrigada por sua escrita, poeta!