quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Amor Fantasma

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Como um fio de brisa matutina
Ele transpôs, sutil, a fisga mais fina da janela
E penetrou em seu quarto, volátil.

Ela jazia ali, em sono profundo
Um sono assim... deveras belo. Um sono de feto. Um sono de Deus

Ele pousou num canto, de cócoras – inerme morcego invisível

Não tocou em nada
Nenhum livro agora haveria mais de o seduzir
Nem as roupas dela, soltas pelo chão
Nem seus discos antigos
Nem a velha guitarra
Nada

Só ela, branca, sob a penumbra do quarto

E ele ali, curvado. Olhos fitos nela, como se buscasse
Vestígios do derradeiro sonho que ela talvez sonhara

O cheiro do mar, ou do campo
O trinar de um rouxinol
O branco das roupas lavadas
O vento desvairando grãos de poeira tarde afora

Mas só ouvia o silêncio, ecoando como um tiro mudo
E quis chorar. Até pensou ter sentido mesmo lhe marejarem olhos
Ele, cigano ectoplasma
Um ente agora informe
Errante
Ser sem chão

E, absorto em si
Rendeu-se, pois, ao caos
E esperou, sereno, a alma dela vir juntar-se à sua.
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Um comentário:

Ana Lucia Franco disse...

Oi Elizeu,

Estou de blog novo. Tua visita será uma honra, poeta!

bj.